Natal
- Antonio Bola Harres
- 25 de dez. de 2016
- 2 min de leitura

Ao inverso do hemisfério norte, o que nasce hoje ao sul é a sombra e não a luz.
Assim, aqui no hemisfério sul deveria se celebrar o nascimento de uma criança de pele negra e não branca. E do gênero feminino.
O inverno corresponde ao máximo da contração da natureza, - o que o taoísmo chama de extremo yin - quando toda a vida se recolhe ao seu íntimo, acumulando energia para o período de expansão que virá a seguir, que terá seu ponto culminante no dia mais longo do ano, no verão.
Assim, estando hoje no hemisfério sul no ponto de máxima duração da luz, o que virá a seguir será o crescimento da sombra, até à noite mais longa, no auge do inverno.
Esta virada de ciclo, onde a luz começa a ser maior que a sombra era celebrada no hemisfério norte pendurando velas nos pinheiros, árvores que não perdem folhas no inverno, tradição da qual se deriva a árvore de natal.
Aqui deveria se usar por árvore de natal um xique xique, planta que tendo transformado folhas em espinhos, mesmo sob o mais quente e árido verão, não se resseca e se retorce, tendo a vantagem de já vir decorada com frutos coloridos, ao invés dos duros e escuros pinhões.
Além de tudo isso, celebrar o nascimento de um menino por representação da vitória da luz sobre a sombra, além de desqualificar a sombra, sem a qual nada fecunda - ou a concepção de um novo ser não se daria no escuro e na humidade intra uterina - foi o primeiro passo do patriarcado falocrata em remover as mulheres para o plano inferior que impede que exista uma papisa, uma dalai lama ou uma rabina chefe ou que somente 10
Aliás, a metáfora que associa os escorpiões ao sexo, se deve principalmente pelas tenazes que se fecham e não mais se abrem ligando um homem e uma mulher, se da cópula resulta um filho.

E para celebrar a noite, que silenciosa e sem deixar rastros, nos próximos seis meses arrastará um manto cada vez maior, salpicado de lua e estrelas, sobre esta metade do planeta, reproduzi ao lado a entidade negra originaria do xamanismo primitivo tibetano e sincretizada pelo budismo, que tem a suprema indiferença de ser igual a todos, destruindo a ilusão de que a luz seja maior e melhor que a sombra; a criação superior à destruição ou existir mais importante que desistir; tendo por espada cortante a suave voz de Ani Choyng Drolma.
https://www.youtube.com/watch?v=dreGjqO2yxY
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