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Análise x interpretação

  • Foto do escritor: Antonio Bola Harres
    Antonio Bola Harres
  • 28 de nov. de 2020
  • 2 min de leitura

Atualizado: 6 de dez. de 2020

Tendo nascido em compasso com Saturno em Virgem e Mercúrio retrógrado em fins de Capricórnio na Casa 3, adoro pastar em campos semânticos, ruminar etimologias e pensar asneiras inventando palavras e trocadilhos que somente outros asnos meus semelhantes, capazes de se manter imobilizados - a não ser pelo abanar do rabo e o contrair da pele para espantar as moscas - filosofar enquanto deglutem.


Por exemplo, a palavra respeito.


A etimologia esclarece que se trata de dar uma segunda olhada em alguma coisa, uma última admirada em si mesmo ao espelho antes de sair, para saber se está bem para alguma inesperada selfie.


Isso sugere que respeitar implica também insuflar o narcisismo alheio, o que me leva de imediato ao polo oposto, a irreverência, associando este termo a alguém com quatro mamilos, ou peitos repetidos, alguém que faz questão de se achar mais que os outros, já que o peito é lugar onde se bate com os punhos, à guisa de gorilas, para intimidar concorrentes ou assegurar verdade ao que se diz ou ainda, de mão espalmada, demonstrar, cívico orgulho diante de bandeiras, por pertencer à mesma manada.


Assim, quando esclareço que não faço análises ao discursar sobre o simbolismo zodiacal, busco declarar minha incredulidade em se fatiar arquétipos com a faca de cozinha da racionalidade, em busca de abri-los em dois para, na expectativa de ver "o que tem dentro", desvendá-los, à semelhança do médico legista ao dissecar cadáveres em busca da causa mortis.


Por isso, saio deste impasse com-siderando-me (ou unindo-me ao sideral presente no céu que me viu nascer) não um analista mas um intérprete.


O inter aí, significando através, deixando-se transpassar pelos símbolos, mantendo-se o mais vazio possível de sistemas de crenças, pressupostos e preferências, para que não caia na armadilha do viés de confirmação, que busca evidências somente daquilo que se está disposto a aceitar,


À exemplo de uma placa de interface em um computador, indiferente aos zeros e uns que retransmite, ou a um carteiro para quem tanto faz o conteúdo das correspondências que distribui nas caixas postais, o intérprete deve buscar manter-se neutro.


Simultânea e não local a esta ego vacuidade, a interpretação requer também o comércio entre símbolos, perfis e fatos, fazendo do intérprete uma espécie vendedor ambulante, que empurra seu carrinho de significado em busca de quem queira trocá-los por conhecimento, tanto de si mesmo quanto do que está porvir. E afinal, mas não finalmente, dispenso qualquer res-peito.


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